Show gospel debaixo de chuva desanimou quem vinha de longe usando transporte público e não juntou nem 20 mil. |
Quem leu a notícia do G1 achou que o show da gravação da atração evangélica de fim de ano da TV Globo foi um sucesso de público. O título da reportagem do RJ TV e do portal das organizações Globo foi: Multidão comparece ao Festival Promessas. As imagens da própria TV Globo, contudo, confirmam a estimativa da Polícia Militar do RJ de que o público presente não passou de 20 mil pessoas, contra os esperados e propagandeados 200 mil expectadores. Veja aqui.
A Folha.com e outros noticiosos apontaram a ausência de nomes importantes como Aline Barros e outros artistas, que ficaram de fora da premiação, como razões para o público minguado do evento. Pura bobagem. Quem ficou de fora, com a honrosa excessão de Cassiane, não está com esta bola toda não.
Outros eventos contando com um elenco muito menos expressivo do que o reunido no “Promessas” juntou multidão dez vezes maior. Não precisamos ir muito longe: Diversos shows do próprio Diante do Trono reuniram público próximo ao esperado para este evento e, justiça seja feita, Aline Barros nunca juntou sozinha público comparável ao de Ana Paula Valadão, Cassiane e outros artistas do segmento, para encurtar a lista.
Portanto, a ausência de outras estrelas não foi a razão do insucesso de público. As escolhas feitas e as decisões de boicote de outras gravadoras são movimentos de disputa de mercado. Obviamente, o “Promessas” não é “neutro e a escolha dos participantes foi muito influenciada pelos interesses da gravadora Som Livre. Contudo, há três questões que realmente pesaram no fracasso de público, na opinião de quem entende do assunto:
A chuva. O público-alvo deste segmento de música é pertencente às classes B, C e E, majoritariamente, e o evento realizado na Zona Sul em local descoberto, distando uma boa caminhada da estação de metrô mais próxima e dos pontos de ônibus, debaixo de chuva forte, é francamente desfavorável à presença deste público que reside em locais distantes do centro e das áreas mais nobres da cidade.
Mas veja bem: a questão do perfil popular do público é a crucial. Não fosse por isto, a chuva não faria tanto estrago. Basta lembrar que o show de Roberto Carlos, no final do ano passado levou um milhão de pessoas à praia de Copacabana debaixo de uma chuva muito forte que só cedeu com o show pela metade. Ou seja, no popular: quem gosta deste tipo de música anda de buzão e mora longe.
Show de Roberto Carlos atraiu 1 milhão com chuva forte. |
Outra boa razão foi a total desmobilização das denominações / comunidades evangélicas na promoção do evento. Shows de música gospel, queiram ou não, são entendidos pela maioria como eventos “espirituais” e a mobilização e o envolvimento das lideranças faz toda a diferença. Em geral, as comunidades vão aos shows, mais do que os indivíduos.
Finalmente, quem é do ramo sabe: Todo o processo de lançamento deste prêmio foi muito mal conduzido pelos gestores. Estes apostaram nos profissionais errados para a promoção, geraram antipatias com diversos grupos por conta de algumas ausências e escolhas fora de propósito, em questões de imagem e comunicação forçaram muito a barra no uso de jargões, simbologias e associações doutrinarias esdruxulas, carregaram nas tintas do marketing espiritual e, no fim das contas, conquistaram mais antipatia do que simpatia entre a liderança da igreja.
A TV Globo vai aprender, a duras penas, que neste “mundinho evangélico religioso” ninguém coloca azeitona na empada gospel de outros ministérios, grupos, lideranças, etc. e os “artistas” ainda tem sua imagem muito colada com suas respectivas denominações. Se a TV Globo mantiver uma estratégia forçadamente espiritual para um empreendimento claramente comercial vai descobrir que até tem crente bobo, mas a liderança é esperta e, para a maioria, a TV Globo “falando gospel” desce arranhado a garganta até mesmo do “levita” mais empedernido.
Devagar com o andor que o ídolo gospel é de barro.